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Pix: os anúncios pagos pela oposição que ajudam a explicar a derrota do Governo Lula nas redes

Fotos: Reprodução

Do Correio Braziliense

No início de janeiro, o governo federal se viu em meio a uma crise inesperada. Nos primeiros dias do ano, entraram em vigor normas da Receita Federal sobre a fiscalização das transações financeiras usando o Pix.

Além dos bancos tradicionais, que desde 2003 já enviavam informações consolidadas sobre as movimentações financeiras de clientes ao fisco, bancos digitais, aplicativos de pagamento e outras fintechs também teriam de passar a reportar os dados à Receita.

Mas o que parecia ser uma mudança corriqueira, logo ganhou contornos de drama para o Planalto. Uma campanha contrária encampada por influenciadores digitais e membros da oposição ao governo do presidente  Luiz Inácio Lula da Silva (PT)passou a circular nas redes sociais.

Nela, um dos argumentos principais era o de que o governo teria criado uma espécie de “imposto sobre o Pix”, o que foi desmentido na segunda semana de janeiro.

Acusada de espalhar “fake news”, a oposição, então, mudou a linha de argumento. Em vez da suposta taxação do Pix, o argumento principal da campanha passa a ser o suposto monitoramento do Pix, a partir do qual o governo poderia aumentar a arrecadação cobrando imposto de renda de quem até então não estaria pagando.

No dia 14 de janeiro, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) divulga um vídeo que viralizou criticando as medidas e levantando suspeitas sobre se o governo poderia ou não taxar o Pix. A produção já alcançou 325 milhões de visualizações, mais da metade disso nas primeiras 24 horas após a postagem.

Pressionado, o governo anunciou, no dia 15 de janeiro, a revogação das medidas. O episódio vem sendo classificado por políticos como uma vitória da oposição em um terreno onde o governo estaria patinando: a comunicação na internet.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que parte significativa dessa campanha negativa contra as mudanças no Pix ocorreu de forma orgânica, ou seja, sem qualquer tipo de impulsionamento pago.

Mas um levantamento feito pela BBC News Brasil com base em dados da Meta (controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp) sobre anúncios pagos sobre o tema ajuda a explicar como o governo perdeu a batalha do Pix.

De acordo com o levantamento, 90% das postagens pagas sobre o tema nas plataformas da Meta tinham conteúdo contrário às medidas.

Juntos, esses anúncios tiveram entre 2,8 milhões e 3,4 milhões de impressões. Impressão é a quantidade de vezes que um anúncio aparece na tela de um dispositivo eletrônico.

Do lado governista, os anúncios pagos favoráveis às medidas tiveram um alcance menor: entre 2 milhões e 2,2 milhões de impressões. O detalhe é que desse montante, pelo menos 2 milhões de impressões ocorreram no dia 16 de janeiro, quando o governo já havia revogado as medidas. Ou seja, o dados indicam que o governistas demoraram para reagir.

A maior parte das postagens da oposição não citava mais a suposta taxação do Pix, mas em pelo menos um caso, um parlamentar pagou pelo impulsionamento de um vídeo que em que anunciava o “fim” da taxação do Pix, embora a suposta taxação nunca tenha sido implementada.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a enxurrada de conteúdo negativo em relação ao Pix fez parte de uma mistura entre debate político legítimo e uma campanha de desinformação.

Eles avaliam que a oposição aproveitou um momento de fragilidade da confiança da população no governo e explorou essa brecha para enfraquecê-lo usando conteúdo que se espalhou de forma orgânica e impulsionada.

O impulsionamento de conteúdo político no Brasil é permitido pela lei brasileira em qualquer época do ano. Durante o período pré-eleições e durante as campanhas eleitorais ele fica sujeito à avaliação da Justiça Eleitoral.

Os especialistas também disseram temer que as novas políticas de moderação de plataformas como as anunciadas pela Meta no início deste ano possam tornar o ambiente virtual ainda mais propício à disseminação de desinformação – o que a empresa nega.

A BBC News Brasil questionou a Meta e ao menos três políticos que pagaram para impulsionar conteúdo que continham menções à suposta taxação do Pix.

Por meio de nota, a Meta disse que não iria comentar o assunto. Os políticos não responderam às perguntas enviadas pela BBC News Brasil.

A batalha dos anúncios pagos

O levantamento feito pela BBC News Brasil teve como base o repositório de anúncios por temas políticos disponibilizado pela Meta. Das empresas que controlam as redes sociais com o maior número de usuários no Brasil, a Meta é a única que disponibiliza esses dados, ainda que de forma parcial.

Segundo Marie Santini, coordenadora do laboratório de estudos de internet e mídias sociais da UFRJ (Netlab), nem todos os anúncios veiculados pela Meta constam deste repositório.

Ao todo, foram coletados 157 anúncios identificados pela Meta classificados pela empresa como como contendo temas políticos e que foram pagos por políticos com ou sem mandato eletivo veiculados entre os dias 1 e 16 de janeiro. O período abrange a intensificação da campanha e o dia seguinte à revogação das medidas pelo governo.

Não há indicação sobre se o pagamento foi feito com verbas públicas ou com recursos próprios.

No campo da oposição, os anúncios foram pagos por deputados federais, estaduais, vereadores, ex-candidatos de oposição e pelo diretório regional do partido Novo no Distrito Federal.

O restante, 16 anúncios, foi pago por deputados federais, funcionários do governo federal com cargos comissionados e pelo diretório nacional do PT.

Os valores exatos sobre quanto foi gasto e qual o alcance desses anúncios não é possível de ser aferido uma vez que a Meta disponibiliza apenas valores aproximados sobre quanto cada anúncio custa e quantas impressões cada anúncio teve.

De acordo com o levantamento feito pela BBC News Brasil, a estimativa com base nas informações disponibilizadas pela Meta apontam que os anúncios da oposição tenham custado até R$ 18 mil As postagens pagas pelos governistas custaram até R$ 21 mil.

Entre os anúncios contra as mudanças no Pix identificados pela BBC News Brasil, a maioria fazia menção que o monitoramento do Pix tinha o objetivo de cobrar impostos depois.

Alguns deles, porém, ainda citavam a suposta “taxação do Pix”, desmentida pelas autoridades no início do mês.

É o caso de uma série de anúncios pagos pelo deputado estadual de Pernambuco Coronel Alberto Feitosa (PL).

De acordo com os dados da Meta, no dia 16 de janeiro, já após a revogação das mudanças anunciadas pelo governo, o parlamentar, que é coronel da reserva da Polícia Militar de Pernambuco (PM-PE), impulsionou 14 anúncios com uma mensagem em vídeo e um título: “Caiu a tributação do Pix!”.

Esta também é a primeira frase do vídeo que tem 1 minuto e 26 segundos e que, em momento algum, corrige a informação de que as mudanças não se tratavam de taxação do Pix.

De acordo com a Meta, um primeiro lote de 13 anúncios custou entre R$ 200 e R$ 300 e apareceram entre 60 mil e 70 mil vezes em dispositivos que acessaram o Facebook e o Instagram.

Outro anúncio idêntico apareceu entre 15 mil e 20 mil vezes em dispositivos acessando apenas o Instagram.

Outro anúncio mencionado “taxação do Pix” identificado pela reportagem é o do deputado estadual por Santa Catarina Napoleão Bernardes (PSD-SC).

De acordo com o levantamento, ele pagou pelo impulsionamento de três anúncios no Instagram com um vídeo usando o termo.

“Taxar o Pix? Jamais. O Pix é uma conquista nacional. Se popularizou, todo mundo usa e taxar, impor taxas sobre o pix não pode nem sequer ser cogitado”, dizia um trecho do vídeo fazendo alusão a uma suposta tributação do Pix.

Mais menções a isso são feitas no vídeo.

“Não à taxação do Pix e o governo federal tem que ser claro que jamais vai cogitar taxar o Pix. Por isso, pelo Pix sem taxação, sem imposto, porque isso é uma sacanagem contra os brasileiros”, disse o deputado no restante do vídeo.

Apesar de pedir que o governo federal se manifestasse sobre o assunto, o vídeo não mencionou que, no dia 7 de janeiro, o Ministério da Fazenda já havia publicado um desmentido sobre as alegações de eventual tributação do Pix e que Haddad e Lula também já haviam ido a público desmentir o assunto.

O deputado federal Gilson Marques (Novo-SC) também pagou por um anúncio que citava a suposta taxação do Pix.

Foi no dia 15 de janeiro. Segundo a Meta, o parlamentar pagou aproximadamente R$ 200 por dois anúncios com o seguinte título: “Imposto por movimentar Pix? Não no que depender de mim”.

De acordo com a empresa, os anúncios geraram entre 1 mil e 2 mil impressões.

A reportagem da BBC News Brasil enviou questionamentos diretamente às assessorias dos três parlamentares citados.

Nenhum deles respondeu às perguntas feitas, entre elas, se o dinheiro usado para a veiculação dos anúncios era oriundo de verbas públicas.

A BBC News Brasil também enviou questionamentos à Meta, mas a empresa, por meio de nota, disse que não iria se manifestar sobre o assunto.

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