Foto: Mauro Pimentel/AFP
Correio Braziliense
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel teria prometido ajuda para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) na investigação das rachadinhas. Em troca, ele queria ser indicado por Bolsonaro para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A revelação ocorreu em gravação obtida pela Polícia Federal no inquérito que apura uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal durante o governo Bolsonaro — a chamada “Abin Paralela”. O sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (15/7), pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O ano passado [2019], no meio do ano, encontrei com o [Wilson] Witzel, não tive notícia [inaudível] bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. ‘Me dá uma vaga no Supremo. […] Sede de poder’”, relatou Bolsonaro.
O ex-presidente complementou: “Então, você sabe o que que vale você ter um ministro irmão teu no Supremo”.
Na gravação obtida pela Polícia Federal, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e Alexandre Ramagem, então diretor da Abin, participam da conversa com as advogadas de Flávio.
Após a revelação de Bolsonaro, as mulheres se surpreendem e Bolsonaro diz que a vaga seria para o juiz Flávio Itabaiana, responsável por julgar a suspeita de rachadinha cometida no gabinete do filho.
O áudio mostra que, em determinado momento da reunião, Bolsonaro afirma que é importante deixar bem claro a confidencialidade do assunto e falar com pessoas de confiança, já que “a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa”.
A declaração responde a uma fala do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno, que diz que “tem que alertar ele que ele tem que manter esse negócio fechadíssimo”. “Pegar gente de confiança dele. Se vazar…”, diz Heleno. Ao que Bolsonaro completou: “E , deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém”.
“Ele”, a quem Bolsonaro, o ex-ministro e uma das advogadas de de Flávio Bolsonaro, Luciana Pires, se referiam seria Gustavo Canuto, ex-ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil durante a gestão do ex-presidente.
O motivo para procurar Canuto, seria perguntar ao advogado, apontado por Bolsonaro como chefe do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), quem estaria investigando Flávio no caso das rachadinhas, para tentar tirar a pessoa do processo. Também foi proposto que ele procurasse o ex-secretário da Receita Federal José Tostes Neto.