Foto: Juan Mabromata/AFP
A Argentina inicia, neste domingo (10/12), uma era de incerteza, com a ascensão ao governo de um ultralibertário que chegou à Casa Rosada com as promessas de romper com a “casta política”, dolarizar a economia e extinguir o Banco Central. Para se sustentar no poder, Javier Milei, 53 anos, precisará tomar medidas eficazes de combate à hiperinflação de 140%, com um índice de pobreza que atinge 40% dos 46,6 milhões de argentinos. Mas, também, abandonar propostas mais polêmicas e buscar o apoio do Congresso, onde terá a minoria nas duas Casas: seu partido A Liberdade Avança fez apenas sete dos 72 senadores e 39 dos 257 deputados.
A cerimônia de posse de Milei contará com as presenças do ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro; do premiê da Hungria, Viktor Orbán; e dos presidentes Luis Lacalle Pou (Uruguai), Gabriel Boric (Chile), Daniel Noboa (Equador), Santiago Peña (Paraguai) e Volodymyr Zelensky (Ucrânia). Também confirmaram a ida a Buenos Aires o rei Felipe VI da Espanha e o líder do partido de ultradireita espanhol VOX, Santiago Abascal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declinou o convite da futura chanceler, Diana Mondino, e enviará o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Milei decidiu enviar um sinal na contramão da casta política: durante a cerimônia, ele trocará um longo discurso aos congressistas por uma breve mensagem, e fará um pronunciamento à nação do alto da escadaria da sede do Legislativo. Amigo de Milei há quatro anos, o deputado Agustín Romo aposta que o colega de partido é a mudança que a Argentina necessita.
“Não será fácil, e o povo sabe disso. Os argentinos entendem o momento que o país atravessa e, por isso, votaram em Milei: para que ele faça o que tem que fazer. O mais difícil será desarmar o aparato criado pela casta política no Estado para encher-se de privilégios às custas dos impostos pagos pela população”, afirmou ao Correio, por meio da rede social X, o antigo Twitter.
Professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA), Miguel De Luca explicou ao Correio que Milei terá um dilema. “Se ele amenizar sua retórica radicalizada e buscar o diálogo, perderá os seguidores mais fiéis, justamente os eleitores que o apoiaram contra a ‘casta’, contra os políticos tradicionais. Se seguir com propostas de governo mais radicalizadas, dificilmente terá apoio para suas iniciativas no Congresso”, observou. “O principal desafio do novo presidente é reduzir a inflação. O aumento de preços vem sendo um problema cada vez mais importante ao longo do ano. Nos últimos meses, converteu-se na principal preocupação dos argentinos.”
O passo a passo da posse
Como será a solenidade de transferência de poder para Milei:
11h (hora de Brasília) — Javier Milei chegará ao Congresso.
11h30 — A vice-presidente e senadora Cristina Fernández de Kirchner tomará juramento à futura vice, Victoria Villarruel. Por sua vez, Villarruel tomará o juramento de Javier Mileicomo novo presidente da Argentina. O Escrivão Maior do Governo lerá a ata da posse e comandará a transmissão de símbolos do poder. Alberto Fernández entregará ao sucessor a faixa e o bastão presidencial. Milei lerá uma breve mensagem ao Congresso.
12h — Agora presidente da Argentina, Javier Milei quebrará o protocolo e fará um pronunciamento à nação a partir da escadaria do Congresso.
12h30 — Milei sairá, em cortejo, até a Casa Rosada, a bordo de um Cadillac Série 62 Coupé conversível.
13h — Missa ecumênia na Catedral de Buenos Aires.