Foto: Evaristo Sá/ AFP
Integrantes do PL e aliados de Jair Bolsonaro veem nas últimas atitudes do ex-presidente um político com receio do processo do qual é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF) por, supostamente, participar de uma organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado no País. Esse medo, de acordo com aliados, poderia ter como consequência a escolha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como seu candidato à Presidência da República no ano que vem, isso dentro de uma articulação que poderia ter como resultado uma anistia, junto dos demais acusados do 8 de Janeiro de 2023.
O Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, colheu as informações em conversas com integrantes do PL e aliados de Bolsonaro realizadas desde a manifestação promovida pelo ex-presidente no Rio de Janeiro, em 16 de março.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou nesta quarta-feira, 26, a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornou Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado. A denúncia envolve, ainda, outras sete pessoas, que também serão julgadas junto de Bolsonaro no Supremo.
Para além do discurso público de que Bolsonaro é alvo de uma perseguição por parte no Judiciário, especialmente pelo ministro da Corte Alexandre de Moraes, algumas atitudes do ex-presidente chamaram atenção de alguns integrantes de seu partido. A principal delas é a insistência em manter sua candidatura à Presidência no ano que vem. Eles admitem, reservadamente, que dificilmente Bolsonaro será inocentado ao final do processo no STF.
Nos bastidores, porém, alguns políticos têm atuado para tentar convencer Bolsonaro a apontar, ainda neste ano, um eventual substituto na disputa presidencial do ano que vem. Essa articulação, até o momento, não surtiu efeito.
Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda. na segunda-feira, 24 Bolsonaro e Tarcísio reforçaram, lado a lado, o plano de que o primeiro seja candidato à Presidência da República e o segundo, ao governo de São Paulo. “Eu não vou passar bastão para ninguém” disse. “Eu só passo o bastão depois de morto”, completou.
O principal entrave para que o governador seja o candidato de Bolsonaro nas eleições do ano que vem é que ele teria de deixar o Palácio dos Bandeirantes em abril, no prazo de desincompatibilização exigido pela lei eleitoral. Isso seria um empecilho caso Bolsonaro opte por uma estratégia parecida com a de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, quando o petista, mesmo preso e inelegível, levou sua candidatura até o limite e só desistiu quando não havia mais possibilidade de recursos ao TSE, indicando o agora ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como seu candidato no pleito.
Integrantes do PL, no entanto, dizem acreditar que o medo de ser preso – e permanecer na prisão – pode fazer com que o ex-presidente mude de ideia até o fim do ano.
A queda de popularidade do presidente Lula, registrada em pesquisas recentes, não engana integrantes do PL. Alegam que a força que a máquina pública tem nas eleições não pode ser desprezada. Tarcísio seria um dos nomes já testados politicamente com mais chance de vencer Lula no ano que vem.
Outras decisões nas últimas semanas corroboram para essa interpretação de alguns dos aliados de Bolsonaro de que o ex-presidente está com medo de ser preso e tem cometido erros de avaliação política. A manifestação em Copacabana, no Rio, por exemplo, foi vista nos bastidores como um erro. Publicamente, aliados do ex-presidente dizem que o ato foi um sucesso, por mais que cálculos feitos por pesquisadores da USP mostrem a participação de cerca de 18 mil pessoas no ato. Limitar o evento à defesa da anistia para os condenados pelos atos golpistas do 8 de Janeiro foi encarado como um equívoco.
Outra atitude errática, ainda de acordo com integrantes do partido, foi a saída de Eduardo Bolsonaro do País nas últimas semanas. O deputado federal anunciou que pediria licença do cargo e que não retornaria ao Brasil, sob a alegação de que o STF promove uma perseguição contra ele e outros bolsonaristas.