Por Claudemir Gomes
A covarde agressão de alguns membros da Torcida Jovem do Sport, que apedrejaram, e jogaram bombas de fabricação caseira, no ônibus que transportava a delegação do Fortaleza, ferindo vários jogadores, ainda repercute. Aguardei a sequência dos fatos para poder externar minha opinião sobre o lamentável crime.
A pergunta que não quer calar: os culpados têm CPF ou CNPJ?
O futebol pernambucano é refém da violência das torcidas há décadas. Neste período vimos todos os poderes enfraquecerem. Literalmente baixaram a crista e estenderam o tapete vermelho para essas facções criminosas que cresceram mais do que a inflação brasileira na década de 80.
O Coronel Chico Heráclito já dizia lá, em Limoeiro: “Infeliz do poder que não pode”.
Em Pernambuco ninguém pode com as organizadas. E assim, com o apoio dos dirigentes dos clubes, dos políticos e a omissão dos organismos que poderiam coibir a violência, elas seguem plantando o terror. Agora, com novidade no cardápio: agressão a delegação de clubes visitantes. Até então isto não havia acontecido no repertório dos horrores, onde já se tinha registros de óbitos; torcedores que ficaram paraplégicos… Cenário de pós guerra.
Quantos presos, julgados e sentenciados?
Esquece este detalhe! Isto é irrelevante. Bola pra frente! No futebol é assim.
Dizem que, quando não se pode com o inimigo, o ideal é se aliar a ele. Acredito que este seja o primeiro capítulo do Código Internacional do Crime. Mas os clubes pernambucanos seguem à risca. Virou regra. Presidentes levam representantes das organizadas para conversarem com jogadores; reservam lugar para eles nas apresentações de reforços; são convidados especiais nas posses das diretorias, enfim, caminham de mãos dadas com os líderes das facções criminosas.
Quando elas plantam o terror, os mesmos dirigentes aparecem na mídia exibindo uma indignação hipócrita.
Pernambuco sempre foi tido como um Estado de vanguarda. No combate a violência no futebol não deixou por menos: criou o Juizado do Torcedor. O órgão passou a ser referência no Brasil inteiro. Depois, os deputados diminuíram a autonomia de voo do referido juizado. E o negócio passou a correr solto para as organizadas. A Polícia Militar prendia os meliantes que logo em seguida eram liberados pela justiça.
Nos dois últimos dias não consegui acompanhar nenhuma resenha esportiva. Elas foram transformadas em resenhas policiais. Rádio, televisão, jornais, redes sociais, canais na web, todas as vertentes da comunicação foram utilizadas para explicações pouco convincentes sobre a covarde ação criminosa da uniformizada do Sport.
Vamos fazer; vamos tomar providências; vamos reforçar… A mais nova é de que as escoltas serão reforçadas para se oferecer mais segurança as delegações dos clubes visitantes.
Há décadas que o futebol leva “bola nas costas” das organizadas.
Várias vezes testemunhei a PM escoltando, com um grande aparato, torcidas organizadas pelas ruas do Recife.
Não entendo de segurança, mas pra mim tem alguma coisa errada neste angu de caroço.
Eita! Acabo de descobrir a pólvora: o problema é que, enquanto dirigentes de clubes, que apadrinham as facções criminosas esboçam uma falsa indignação, e as autoridades dizem que vão fazer, as uniformizadas já têm feito.
A questão é o tempo do verbo.
Confesso que, tudo que ouvi nestes dois últimos dias soou como pura hipocrisia. Meu sentimento é de que, os amarelinhos vão seguir plantando o terror, como fazem há mais de 20 anos.