Foto: Minervino Júnior/CB
Do Correio Braziliense
As rodovias brasileiras que interligam os quatro cantos do país enfrentam uma situação delicada. Segundo a Pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte) de Rodovias de 2023, dos 111.502 quilômetros analisados no país, apenas 32,5% estão em ótimo ou bom estado.
O dado representa 36.312 quilômetros de estradas. De acordo com o levantamento, os outros 67,5% estão em estado regular, ruim ou péssimo. O cenário se entrelaça a uma série de consequências perigosas que colocam em risco a vida e integridade de quem transita país adentro.
A maior parte da malha viária brasileira se encontra em estado regular, 41,37%, o que corresponde a 46.124 quilômetros. Essa extensão apresenta problemas estruturais e de manutenção na malha viária.
Em um recorte regional, o Norte brasileiro é a região com maior número de rodovias federais em más condições. A análise, feita em 13.729 quilômetros de estradas que cruzam o local, classificou 15,7% (2.159 quilômetros) em situação péssima. O Centro-Oeste possui 14,3% de suas estradas em condições degradantes.
Para o caminhoneiro autônomo José Henrique Garcia de Moraes, 60 anos, as estradas que cortam o Centro-Oeste brasileiro não estão em suas melhores condições.
“Há muitas rodovias no Distrito Federal em estado ruim. Algumas de Goiás estão boas, como a que vai para Alto Paraíso. Em Minas Gerais, tem muitas estradas precárias. Já em Mato Grosso, as estradas são boas, mas são muito estreitas e não têm acostamento”, afirmou.
Os problemas influenciam até no estado dos caminhões ao transitarem nas estradas. “Tem muitas estradas estreitas, com desnível, que causam risco de tombamento. Desloca pneu do caminhão, acaba com a suspensão e o freio de mola. A gente toma cuidado, mas ainda provoca acidentes”, conta José Henrique.
No ramo de transportes de cargas há mais de 20 anos, o caminhoneiro percorreu a maioria das rodovias brasileiras. Na avaliação dele, o problema vem desde a raiz, no processo de construção.
“Existem diversos fatores que deixam a rodovia perigosa. A falta de manutenção, falta de acostamento, trepidação, buracos. Isso tudo por causa da construção que foi malfeita”, destacou.
Nos últimos anos, ele escolheu percorrer apenas as estradas de São Paulo, que, na sua opinião, são as melhores. Com seu conhecimento, o autônomo analisa que o pedágio é uma opção para a melhoria da extensão viária brasileira.
“As rodovias pedagiadas muitas vezes ficam a desejar, mas, mesmo assim, ainda são melhores do que as pistas normais. Existem algumas boas, como a BR-050 (Brasília – Santos), mas há outras que não são tão boas, como a BR-040 (Brasília – Rio de Janeiro)”.
O carreteiro autônomo Kleiber Vieira Gomes, 50, roda pelas estradas do Norte e Nordeste há mais de 15 anos. Ele relata situações parecidas: rodovias com falta de conservação.
Na visão do advogado especialista em infraestrutura Antônio Henrique Monteiro, existem inúmeros fatores que contribuem para os problemas viários brasileiros.
“Historicamente, o investimento na infraestrutura rodoviária do Brasil tem sido insuficiente para acompanhar o crescimento da demanda e para manter as estradas em bom estado de conservação. A falta de recursos financeiros destinados à infraestrutura rodoviária limita os esforços de manutenção e expansão”, analisa o especialista.
O intenso tráfego de veículos pesados e a falta de manutenção adequada, quando se juntam a má gestão, falta de planejamento integrado e falta de fiscalização contribuem para o agravamento da situação. “A combinação desses fatores tem contribuído para a precariedade da malha rodoviária brasileira, o que impacta negativamente a segurança, a eficiência e o desenvolvimento econômico do país”, acrescenta Monteiro.