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Evangélicos divididos sobre o Messias

Foto: Emanuelle Sena/ AscomAGU

Por: Fernanda Strickland e Wal Lima

Do Correio Braziliense

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está determinado a reduzir a rejeição de seu governo entre os evangélicos — e a possível indicação do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF) faz parte dessa estratégia. Membro da Igreja Batista, Messias vem atuando como um dos principais interlocutores do Palácio do Planalto com igrejas e lideranças religiosas. O nome dele para a mais alta Corte do país, porém, sofre resistência no meio evangélico, justamente por sua ligação com o petista.

Apesar dos seguidos acenos de Lula, o segmento continua, majoritariamente, alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que construiu uma base sólida dentro das igrejas, especialmente nas Assembleias de Deus e nos ministérios neopentecostais.

Lula deixou claro, mais de uma vez, que considera a reaproximação com os evangélicos “fundamental” para as eleições. “Quando é que nós vamos deixar de dizer que os evangélicos são contra nós? Evangélicos não são contra nós nada. Nós é que não sabemos falar com eles. O erro está na gente, o erro não está neles”, pregou Lula, durante discurso no 16º Congresso do PCdoB, em Brasília, na quinta-feira à noite. A fala mostra a dificuldade de diálogo com esse público e a necessidade de corrigir o distanciamento que marca a relação entre o PT e as lideranças religiosas.

A declaração ocorreu horas depois de Lula receber, no Palácio do Planalto, representantes da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, o principal braço da denominação evangélica mais numerosa do país. Participaram do encontro o bispo Samuel Ferreira, líder da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil (Conamad), o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP), e o próprio Messias.

O reencontro de Lula com o bispo Samuel Ferreira representa uma reabertura de diálogo com uma das famílias mais influentes do meio evangélico. Ferreira, líder da Assembleia de Deus no Brás (SP), já teve relação próxima com o PT no passado, mas se aproximou do bolsonarismo nas últimas eleições. A reunião no Planalto sinaliza um realinhamento cauteloso, que pode ter impacto político relevante em 2026.

O deputado Cezinha de Madureira, articulador da visita, minimizou o caráter político do encontro, classificando-o como “uma visita de cortesia”, mas disse que foram tratadas pautas sociais. “Falamos sobre o papel das igrejas na assistência às famílias e na recuperação social das comunidades”, afirmou.

Segundo fontes do Planalto, Lula acredita que a indicação de Messias ao STF pode ter um duplo efeito: garantir um nome técnico e leal ao governo na Corte e, ao mesmo tempo, representar um “gesto de fé” capaz de sinalizar respeito ao eleitorado cristão. Hoje, apenas um ministro do Supremo, André Mendonça, indicado por Bolsonaro, identifica-se como evangélico.

Messias tem intensificado sua presença em eventos religiosos, como a Marcha para Jesus, em que representa o presidente, e consolidado a imagem de ponte entre o governo e o mundo evangélico. O advogado é visto como figura discreta, porém próxima de Lula desde o primeiro mandato.

Reações

A movimentação do governo provocou reação na extrema-direita. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que mantém forte influência entre mulheres evangélicas, publicou em suas redes sociais uma sequência de versículos bíblicos logo após as imagens do encontro entre Lula e as lideranças religiosas ganharem repercussão.

As postagens, extraídas dos livros de Apocalipse, Números e Mateus, foram interpretadas como indiretas a Messias e ao próprio governo, reforçando o discurso de que o PT tenta se “apropriar da fé” para fins eleitorais. Michelle tem usado referências religiosas para se manter como uma das principais vozes do bolsonarismo no segmento evangélico — que continua a representar um eleitorado decisivo para 2026.

O pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, publicou um vídeo em suas redes sociais e escreveu que “um verdadeiro cristão não apoia Lula”.

“Evangélicos e cristãos em geral precisam assistir a este vídeo para não serem enganados”, acrescentou. No vídeo, ele tenta convencer os evangélicos de que Lula é contra os valores cristãos. “Esse cara tem o espírito de engano. Lula, você não vai mais enganar os evangélicos, enganar os cristãos. Que Deus abra os olhos dos meus irmãos evangélicos”, afirmou. Também sustentou que “a igreja de Cristo” está acima de tudo e não apoia ninguém, seja prefeito, governador, presidente ou qualquer ou qualquer tipo de político.

Messias também usou as redes sociais nesta sexta-feira. Ele desejou “paz e esperança” no fim de semana, numa mensagem acompanhada da música Blowin’ in the Wind, de Bob Dylan.

“Os desafios de paz e fraternidade estão por aí, soprados pelo vento, perceptíveis àqueles que têm fé e escutam o coração. A metáfora de Blowin’ in the Wind encoraja o espírito humano a atitudes transformadoras”, escreveu.

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