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Por: Pupi Rosenthal
Do Diario de Pernambuco
Mesmo tendo garantido que a totalidade do orçamento do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) seja destinado, até 2026, à implantação da Ferrovia Transnordestina no trecho que atende ao Ceará, o titular da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Danilo Cabral, está com as malas prontas para deixar o cargo a pedido do governo cearense. Informações de bastidores dão conta de que o anúncio deve sair nos próximos dias.
A decisão de destinar o FDNE para o projeto foi anunciada no ano passado e garantiu R$ 3,6 bilhões para a obra que vai de Eliseu Martins, no Piauí, ao Porto de Pecém. Na época, a negociação envolveu o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e o ministro da Casa Civil do Governo Lula, Rui Costa (PT).
Com um orçamento anual de R$ 1 bilhão, o FDNE financiava, por exemplo, projetos na área de energia sustentável nos nove estados da região. Com a decisão de repassar a totalidade dos recursos para a Transnordestina Logística (TLSA) – empresa detentora da ferrovia no trecho cearense e subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – esses projetos foram descartados.
Este ano, a TLSA já recebeu o primeiro R$ 1 bilhão, referentes ao orçamento de 2024, e deverá receber, até dezembro, mais R$ 1 bilhão de 2025. Outros R$ 1 bilhão serão liberados em 2026 e mais R$ 600 milhões em 2027. Além disso, outros R$ 800 milhões já foram repassados, em 2025, de recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor).
No entanto, durante a visita do presidente Lula (PT) a Pecém, no dia 20 de julho, Elmano de Freitas criticou, em discurso, o que ele chamou de “falta de agilidade por parte da Sudene em liberar os recursos”. As críticas ao órgão e, em especial, ao superintendente Danilo Cabral foram corroboradas pelo presidente da TLSA, Tufi Daher Filho, e levadas a Lula também por Rui Costa.
O ministro da Casa Civil já chegou, inclusive, a falar, em novembro do ano passado, durante entrevista ao jornal Diário do Nordeste, que “a obra mais importante e de futuro do estado (Ceará) que eu vou considerar, é a Transnordestina. Nós acabamos de aprovar o parecer técnico da Sudene para viabilizar R$ 3,6 bilhões para concluir a obra”, afirmou, durante uma visita às obras da TLSA.
Apesar do pano de fundo da saída de Danilo da Sudene ser a Transnordestina, nos bastidores se fala também que a pressão do Ceará vem a atender uma demanda antiga do estado vizinho: ter um cearense no comando dos recursos do FDNE e, principalmente, do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que tem um orçamento de R$ 47 bilhões para esse ano.
O FNE tem suas diretrizes estabelecidas pela Sudene e é operado pelo Banco do Nordeste (BNB), presidido pelo pernambucano e ex-governador Paulo Câmara. Tradicionalmente, o cargo era ocupado por um cearense. Por isso, a escolha de Câmara não foi bem recebida quando da indicação, em 2023. Com a Sudene nas mãos, os cearenses conseguiriam, enfim, ter algum controle sobre o fundo.