Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
O governo chegará, na semana que vem, quando o Congresso promete um “esforço” para votar as medidas de ampliação de receita da União, com uma pauta de pedidos de parlamentares sobre a mesa. Próximo do fim do ano e dependendo da boa vontade de deputados e senadores para aprovar essas propostas, o Palácio do Planalto corre o risco de virar refém da sanha por emendas e garantia de mais recursos para o fundo eleitoral. Em 2024, haverá eleição para prefeitos, que formam as bases dos congressistas.
Na Câmara, deputados que compõem a base do governo estão insatisfeitos e reivindicam que suas emendas sejam contempladas pelo Executivo. Nesta semana, por exemplo, o deputado José Rocha (União Brasil-BA) fez uma queixa pública por não ter mais de 20 de suas emendas consideradas no Plano Plurianual (PPA), que prevê investimento em programas federais entre 2024 e 2027. E anunciou que não falava apenas em seu nome, mas de vários colegas.
“Uma questão que acomete vários parlamentares é essa, o não empenho de várias emendas impositivas individuais dos colegas (aquelas que o governo tem a obrigação de liberar). Tenho emendas na saúde, para hospitais da Bahia, e não estão empenhadas (próximas de serem pagas), entre outras 26 emendas”, afirmou Rocha.
“Acho que é um absurdo isso. Não podemos ser considerados dessa maneira. Fica difícil compreender que não há sensibilidade para atender a essas entidades tão carentes de recursos.” O relator do PPA, deputado Bohn Gass (PT-RS), não respondeu ao deputado.
Os parlamentares reclamam que ainda há emendas do período de Jair Bolsonaro não liberadas. Dessas emendas da gestão anterior, o saldo é de quase R$ 15 bilhões, considerando 2019 a 2021.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está com dificuldade em obter votos para garantir aprovação dos projetos de interesse da equipe econômica. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para discutir a pauta da semana que vem. Ouviu do senador que, se necessário, serão marcadas sessões extraordinárias para atender aos pleitos do Planalto.
Entre as pendências governistas no Congresso, estão a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), a reforma tributária e o projeto das apostas esportivas, as bets.
Nesses últimos anos, o Congresso se apoderou de boa parte do Orçamento. Um exemplo desse poderio é que os deputados, hoje, dependem menos dos ministérios, para onde mandavam seus assessores aguardar na antessala de ministros e pedir liberação das emendas.
Sempre que pode, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), principal responsável por essa transferência de poder de liberação das verbas, repete que acabou a fase do parlamentar com “pires na mão” na Esplanada dos Ministérios.
Deputado com experiência na área orçamentária, Danilo Forte (União Brasil-CE), relator da LDO, amarrou ainda mais essa peça ao Congresso. Ele inseriu na lei um artigo que amplia dos previstos R$ 37,6 bilhões de emendas individuais e de bancada para quase R$ 50 bilhões.