Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal sobre envolvimento em tentativa de golpe de estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adiantou que deverá manter o silêncio. No entanto, nesta quarta-feira (21), o liberal fez questão de afirmar que está sendo investigado por “um crime impossível de acontecer”. Bolsonaro disse que a minuta encontrada na sede do PL, em Brasília, falando em Estado de Sítio, não teve qualquer tipo de encaminhamento. O ex-presidente falou durante entrevista a Elielson Lima, da Rádio CBN.
“Sofri três buscas e apreensões, uma foi aqui na sede do PL, onde encontraram aquela minuta. Foi um escândalo naquele dia. Aquela minuta foi fornecida de processos que vinham de lá do Supremo Tribunal Federal. Então, não tinha nada a ver comigo. O que era essa história de golpe ou Estado de Sítio. Inclusive, está previsto para amanhã o depoimento de quase uma dezena de pessoas, entre elas, eu na Polícia Federal. É em cima de uma tal minuta de Estado do Sítio que está sendo divulgada como uma minuta golpista. O que é Estado de Sítio? Em três situações você pode decretar. Comoção nacional, guerra ou Plano de Estado de Defesa porque é um remédio menos forte não surte efeito. Mas para um presidente partir para decretação de Estado de Sítio, primeiro tem que ter outros componentes de grave situação nacional. Depois é obrigado a reunir-se com os conselhos da República e Defesa. É obrigado a ouvir essas pessoas. Quem são essas pessoas? É o vice-presidente da República, o presidente da Câmara, presidente do Senado, líderes da maioria e minoria da Câmara e do Senado. Ou seja, um grupo de quase 20 pessoas. Depois de ouvi-los, e eles votarem pelo sim ou pelo não, o presidente decide. Se o voto for favorável, o presidente encaminha para o parlamento o pedido de decretação do Estado de Sítio. Não é do presidente a palavra final, é do Congresso Nacional. Vamos supor que ele (presidente) não deve decretar. Esses conselhos são consultivos e a gente pode ignorá-los, mas mesmo assim se encaminha para o parlamento. E o parlamento tem um prazo bastante curto para dizer sim ou não. Se o parlamento disser não, acabou o Estado de Sítio. Não é o presidente que decreta. Alguns dizem por aí, lamentavelmente por parte da imprensa, que seria um golpe e Estado de Sítio. Isso não existe. Não podemos ficar batendo nessa tecla. Tem gente do meu lado que está presa por causa disso. Um crime impossível de acontecer. Isso surpreende algumas autoridades e parte da imprensa defender essa hipótese de dar golpe via Estado de Sítio. Estado de Sítio é algo previsto na Constituição. Então, sequer o primeiro passo foi dado. Peço que as pessoas se interem sobre isso.Ninguém quis dar um golpe de estado”, desabafou o ex-presidente.
Bolsonaro disse que ainda não teve acesso ao processo e adiantou que, se até amanhã, tomar conhecimento poderá falar na PF. “Os processos são todos sigilosos, reservados. Meus advogados, se tiverem acesso até amanhã, obviamente que eu vou falar. Agora se não tivermos acesso…são processos bastante longos, com mais de mil páginas. Aí está o respeito do Estado Democrático de Direito porque ninguém pode ser julgado sem saber do que está sendo julgado. Os advogados é que decidem”, disse.
O liberal ressaltou que, ao longo dos quatro anos do seu mandato, jogou “dentro das quatro linhas”. “Aponte uma medida minha contra qualquer decisão do parlamento ou da Justiça brasileira”, disse ele.
Por outro lado, afirmou que está sendo vítima de perseguição do Governo Lula e citou até a denúncia sobre importunação de baleia como exemplo. “Não é da (competência da) Polícia Federal, não é do Supremo. Importunação de baleia é do Ministério do Meio Ambiente, da querida ministra Marina Silva. O ministério dela representou junto ao MP e o MP foi contra, que não tinha indícios mínimos de me investigar sobre importunação de baleia. Esse ministério é do Lula. Bem, o ministério da Marina recorreu a outra pessoa e a Polícia Federal vai me ouvir terça-feira. Não é a Polícia Federal me perseguindo, mas é o Governo Lula. Alguém tem dúvida disso? Ainda bota lá o tempo todo: dois a cinco anos de detenção por importunação de baleia. É perseguição, não há dúvida”, disse.
O ex-presidente enfatizou que essa perseguição foi que causou a sua inelegibilidade por oito anos. “Estou inelegível por que? Qual foi o crime? Me reunir com embaixadores? O próprio Lula disse: ‘Bolsonaro não volta mais para a Presidência. Dependerá das nossas narrativas. Se elas forem bem feitas, ele não será presidente da República’. Quer coisa mais clara do que isso? É uma perseguição contra a minha pessoa”, disparou.
Em outro momento da entrevista, quando perguntado sobre quem teria seu apoio na disputa pela Presidência em 2026, Jair Bolsonaro demonstrou esperança de inverter a decisão da Justiça e voltar a ter direitos políticos antes deste prazo. Por isso, acredita que terá chances de voltar a disputar as eleições. “A intenção era me tirar, já me tiraram. Eu queria ser candidato a vereador do Rio de Janeiro para ajudar o (Alexandre) Ramagem, inclusive. Sem problema nenhum, comecei a minha vida como vereador, é um ótimo caminho para quem quer iniciar”, revelou.
HOLOCAUSTO
Questionado sobre a declaração do presidente Lula, comparando a guerra de Israel contra o grupo Hamas, na Palestina, ao holocausto na segunda guerra mundial, Jair Bolsonaro disse que o petista se posicionou de forma criminosa. “Uma fala criminosa. Não é infeliz, é criminosa. Que ofendeu não apenas os judeus, mas ofendeu a humanidade. O aconteceu na segunda guerra foi a eliminação em grande parte em câmaras de gás dos judeus, não existe na história do mundo. E Lula compara o exército de Israel aos nazistas. Chocou o mundo. O mundo democrático está olhando para o Brasil de forma diferente. Em 2019, em consegui com (Donald) Trump o status para o Brasil de grande aliado extra Otan. É um status que foi conseguido pelo presidente Trump, com aval do parlamento norte-americano, de modo que o Brasil passou a ter facilidades em compra de armamento e tecnologia militar.
O ex-presidente ainda alertou sobre as consequências econômicas que o Brasil pode sofrer por conta dessa crise diplomática com Israel. “Ontem, a notícia era que o parlamento americano quer tirar o Brasil de grande aliado extra Otan. Perde na questão econômica também. Não se discute a questão humanitária, que é o que mais importa. Vamos para o caso da Embraer, que é um orgulho nacional. Na fabricação do KC 190, um avião de carga, parte dos componentes, especial a tecnologia, vem de Israel. Peças também. Se o Brasil romper com Israel, a produção de KC vai ficar comprometida e é um avião reconhecido no mundo todo. Nenhum país vai querer comprar o KC 390, sabendo que vai ter dificuldade, no caso de algum problema ou manutenção prevista, não ter onde comprar peça de reposição. Vai deixar esse avião no pátio. Então, as consequências serão enormes e influenciam em tudo. Até na agricultura brasileira tem reflexo negativo com essa posição do Lula. Que o Governo reconheça seu erro para voltar a conversar. Parece que Lula está dobrando a aposta. Vai ficar com quem no futuro? Com ditaduras? Vamos nos afastar do mundo democrático? É uma fala que não cabe ao presidente da República. Não cabe, com todo respeito, a um vereador. Além de demonstrar desconhecimento sobre o que foi o holocausto”, comentou.